segunda-feira, 7 de maio de 2012

Deus e a religião

Como a grande maioria de vocês sabem, nessa semana pretendo lançar um novo livro: Traços, que vem contando a história (curta, menos de 70 páginas) de amor de um elfo e um homem.
Bom, já tem cerca de um mês que estou me dedicando inteiramente a essa nova obra, então ontem resolvi dar uma pausa e me "descontrair".
Cavocando em meu pc, encontrei um arquivo que sequer lembrava de ter. Um filme, daqueles que ninguém nunca ouviu falar, que poucas pessoas se interessariam em ver, mas que eu, como sempre, adoro. Sou do tipo que conheço mais filmes independentes e sem sucesso do que os que estouram bilheterias.
Bom, o filme se chama Filhos de Deus.

É o tipo de obra que aborda de tudo, desde racismo a homofobia, também a violência e a degradação humana, mas acima de tudo, mostra com uma inteira verdade o que se passa no coração de cristãos dentro de denominações religiosas.,
O plano de fundo é o amor de um rapaz loiro Johnny por um nativo da ilha de Bahamas.
Mas, o filme não se foca apenas nos dois, pois traz intrigantes e marcantes coadjuvantes que nos fazem pensar e repensar nossa própria existência.
O resultado: Uma viagem a nossa própria ética e moral.

Enquanto Romeo e Johnny se encontram e desencontram pela ilha paradisíaca, vemos um reverendo sofrendo com a sua falta de fé.

Como não se ver em tal personagem? Marcou-me profundamente, porque pude enxergar a mim mesma em anos anteriores sofrendo com minhas dúvidas e anseios.

Bom, mas vamos explicar. Lena, uma das coadjuvantes femininas é mãe de um garoto e esposa de um líder religioso. Esse líder é um homofobico que faz campanha social contra os gays. Lena, assim como o marido, vive em função de "limpar a sociedade" e pregar a sua "fé". Contudo, certo dia ela é avisada pelo médico que está com DST. Como Lena jamais dormiu com outro homem que não seja o marido, resolve tirar a história a limpo. É aí que descobrimos que o marido dela não é só adúltero, como também participa de festas em boates gays e transa com qualquer cara que aparece.

Mais tarde, no mesmo filme, ele explica a um dos amantes que só persegue os homossexuais porque precisa dar ao seu público algo a que odiar.

Afinal, o que mais une uma sociedade? O amor? Não, o ódio.


Tentando se afastar do marido, Lena resolve fazer seu trabalho missionario na ilha onde está Romeo e Johnny. Lá ela é recebida pelo reverendo local que está numa fase que já passei: questionamento de fé.

Aqui que entra meu sentimento pelo filme.

Eu me tornei cristã em 2004, com vinte anos. A maioria das pessoas só se torna quando fica "velho e acabado" e ninguém mais quer. É quase padrão: depois que se mata, estupra, se vive uma vida decadente e cheia de imoralidade, daí se resolve "amar Jesus".
Mas, não eu.
No auge da minha juventude eu segui um caminho diferente dos meus amigos. Todos iam as festas, aos jogos, aproveitavam "suas primaveras" enquanto eu fui para a Igreja.
Não fui pela dor, como muitos.
Eu me apaixonei perdidamente por Jesus. Não conseguia pensar em mais nada, passei a viver por Ele, respirá-lo. Como uma autêntica enamorada, meus lábios só falavam do meu amor. Vivia cantarolando hinos e salmos, lendo a Biblia e qualquer livro que remetia a Biblia.
2004 foi o ano mais feliz da minha vida. Me batizei numa noite fria de maio, e jurei naquele dia "nunca mais voltar atrás". Como em qualquer casamento, eu vivi minha lua-de-mel com Cristo, que adentrou 2005 e chegou em 2006.
Essa época foi marcada por cursos Biblicos, me tornei líder, fazia trabalho voluntario todo sábado, e levantei muitas vezes de madrugada para orar pelos que necessitavam.

Eu vivia para pregar o amor de Deus e para espalhá-lo ao próximo.

Porém, como a todos, o legalismo chegou.
Eu não sei precisar exatamente quando, mas chegou.

Eu havia me tornado cristã para falar do amor de Deus, mas passei a me tornar uma metralhadora da Biblia, como diziam no filme. Para defender os preceitos que eu achava correto, eu avassalaria qualquer um que estivesse na minha frente.

Subitamente, a minha vida religiosa, repleta de amor e paixão se tornou uma sucessão de "pode" e "não pode", "sim" e "não", "santo" e "mundano".

Vamos a um exemplo:
Veja bem, de inicio eu usava saias longas (mesmo a Igreja não pedindo isso) por pura vontade. Adorava me sentir assim. Não ligava para roupas caras ou para o status social da Igreja. Mas, pessoas tão desprovidas de vaidade quanto eu, nessa fase moralista, logicamente seriam engolidas pelo faraseísmo.

Roupas? De uma hora pra outra, ir com a roupa que você se sente bem não bastava. Você TINHA que estar bem vestido, de preferência com algo chamativo, de sandalia ou botas. Ter carro também era importante. E, acima de tudo, estar magro.

Engraçado, não? A Igreja conseguia ser mais crítica e exigente que "as pessoas do mundo".
Lembro até hoje quando fiquei doente e o médico me avisou que a medicação iria me engordar ("você vai ter muita fome e vai inchar" ele disse), e eu ri, falando que não tinha problemas.
Porém, têm.
Um dia eu ouvi falarem de mim...
depois ouvi novamente...
Um dia falaram na minha frente, como se eu não existisse ou não tivesse sentimentos.
Depois falaram da minha roupa...
Comecei a ouvir risinhos e insinuações ao meu respeito

...

E então eu vi:
Em algum lugar naqueles anos, eu estivera em uma bolha cega de felicidade e não percebia que a verdade era que a religião não era exatamente o meu centro com Deus.

E então a minha fé diminuiu. Bruscamente.
Porque eu percebi que era usada para atingir pessoas, e não para levar o amor de Deus a essas pessoas. Assim como o reverendo do filme, passei a ser vitima de pesadelos, e comecei a ver erros nas doutrinas que antes eu considerava tão inabaláveis.

Assim como o reverendo, um dia arrumei minhas coisas e "fui embora".
Deixei para trás tudo, e passei a seguir uma nova vida.

...
e então, quando parei de buscar, foi que encontrei.
A resposta para tudo estava simplesmente em "De tudo o que se tem ouvido, a suma é: Teme a Deus e guarda os seus mandamentos; porque isto é o dever de todo homem." Ec 12.13 

Eu havia criado tantas regras e preceitos, e havia me perdido. Estava, como o jovem rico, completamente largada dentro de uma denominação religiosa, sem realmente saber que caminho seguir. Havia deixado de amar e passei a simplesmente suportar. Não fazia mais nada por prazer, e sim por obrigação.

Hoje, passei a viver de acordo com que creio. Não dou mais satisfação da minha fé. Sim, não acho que homossexualismo seja pecado, sim, eu creio que dizimo é lei cerimonial, sim, eu tenho duvidas sobre a trindade, sim, eu acho Davi um babaca...
Sim, eu sou livre para dizer que penso.
Não mais estou amarrada...
E, agora, sinto-me preparada para voltar a minha lua-de-mel com Cristo. Talvez, e espero, muito em breve, eu possa voltar a me sentir pronta para espalhar o amor DEle as pessoas... sem distinção.

 
E por isso esse filme me ajudou... me fez ver o que eu mesma já havia esquecido.
Espero que o final feliz, da libertação do reverendo, seja o mesmo que o meu.
Amém.

2 comentários:

Unknown disse...

Josy eu quero ver esse filme. Eu quero. Adoro filmes, livros e alguns assuntos que fogem do cotidiano e da mesmice.

Temos que abrir os horizontes para novos conhecimentos. Adorei a postagem.

Josiane veiga disse...

Su, assista sim porque vale MUITO a pena.